quinta-feira, novembro 21, 2024
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8 de janeiro, Xandão e a História do Brasil

Texto escrito por Gabriel Pereira da Silva Bastos, graduado em História na UFF e professor
Este professor acordou em suas férias ao meio-dia de 4 de janeiro com uma bombástica
notícia veiculada em O Globo: Grand Finale de 8 de janeiro era a prisão e o enforcamento
público do ministro do Superior Tribunal Federal, Alexandre de Morais. E o responsável por
divulgar esta “bomba” foi o próprio jurista. Historiador tem um jeito de pensar muito
particular, e martelou na minha cabeça a seguinte pergunta: como o potencial ataque
homicida ao ministro da Suprema Corte se relaciona com o histórico de golpes na História do
Brasil?
A palavra de Golpe de Estado surgiu nos Seiscentos por um bibliotecário e filósofo
francês chamado Gabriel Naudé em 1639. Na época, golpe de Estado era qualquer medida
excepcional tomada pelo rei para preservar a paz e a segurança do seu reino. A partir de 1800,
com o surgimento dos Estados Constitucionais, golpe de Estado ganhou outra explicação: são
ações extraordinárias não previstas na Constituição, feitas por grupos ligados ao Estado, para
mudar a realidade política de um país. A partir daqui a palavra se popularizou!
A história do Brasil é atravessada por dezenas – sim, dezenas – de golpes tentados e
conseguidos. 1889, 1891, 1922, 1924, 1930, 1932, 1935, 1937, 1938, 1945, 1954, 1955, 1961,
1964, 2016 e, claro, 2023. Ufa! Nossa república começa com um golpe estranhamente
chamado de “Proclamação da República”, quando o milico barbudo Deodoro da Fonseca lidera
uma quartelada contra o 1º ministro Visconde de Ouro Preto (bisavô do Dinho, do Capital
Inicial) e ao descobrir que Gaspar da Silveira Martins, seu desafeto político e amoroso, seria o
próximo a ocupar o cargo, derrubou a carcomida monarquia.
“Ora, onde entra o Xandão nessa história, Gabriel?” O Alexandre de Morais, ministro
do STF, presidente do TSE, foi uma peça, senão A peça que impediu o sucesso da tentativa de
reeleição fraudada de Jair Bolsonaro em 2022 e segurou “na unha” a vitória eleitoral heroica
de Lula e lhe assegurou sua posse. Posse esta que este professor viu e se debulhou em
lágrimas na Praça dos 3 poderes em Brasília, em 1 de janeiro de 2023.
Mas a minha tese sobre o motivo principal que levava aos golpistas de 8 de janeiro a
sonhar acordados com a morte do Alexandre de Morais é outro. Para mim, o motivo principal
para que os fanáticos que ocuparam e destruíram as sedes dos Poderes quererem o couro do
ministro é explicado pela origem dele. Explico. Acredito que a raiva bolsonarista se dá porque
o ministro é um professor universitário da USP, ex-político filiado ao PSDB e ligado aos grupos
conservadores de São Paulo. Os “reaças” não suportam a ideia de que um liberal-conservador
como Xandão não fez aquilo que historicamente a maior parte de parceiros ideológicos
fizeram: agiram para derrubar via golpes todo e qualquer governo reformista brasileiro.
Getúlio, Jango, Dilma, Lula… Para os bolsonaristas, Xandão seria um traidor da causa. Mas de
qual? Da causa “golpista atávica, hereditária” dos liberais-conservadores brasileiros , ou seja,
da causa que acredita que em nosso país um governo não pode avançar um palmo em direção
a um país mais justo que aqueles irão derrubá-lo a impeachment, a fraude ou a bala.

***

Sou professor do Ensino Básico e produtor de um podcast de História chamado
Cliocast. Em 8 de janeiro saiu o episódio G de Golpe de Estado no site
www.cliohistoriaeliteratura.com. Ouça, compartilhe e ajude esse professor divulgar
conhecimento histórico por esse mundão de meu Deus.

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