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O QUE SE DIZ E O QUE SE ENTENDE

REFLEXÕES “LITERÁRIAS”

LUCIANE RAPOSO – LEITORA, ESCRITORA, EDUCADORA, PALESTRANTE E BOOKTUBER
Instagram: @ludecastroraposo Youtube:
www.youtube.com/literaturapravida

 

 

 

Cecília Meireles publicou um livro de crônicas com o título O
que se diz e o que se entende. Cecília, que viveu na primeira
metade do século XX, foi professora, escritora, poeta, pintora.
Foi uma intelectual que ajudou a pensar a Literatura e a
sociedade de sua época. Foi alguém que pensou o Brasil e o
mundo a partir de sua poética tão irresistível.
Cecília também sofreu censuras, perseguições e morreu com
pouco mais de sessenta anos. Uma vida breve para os padrões
de hoje, mas perpassada pelo revolucionário gesto de pensar.
Uma vida conduzida pelo pendão da coragem de escrever sobre
o mundo, ainda que nem sempre bem-sucedida em seu intuito
de comunicar a palavra correta.
Falo de Cecília décadas após sua morte para recordar que o
mundo e, por conseguinte, os seres humanos, não mudou tanto
assim desde o tempo desta poeta brasileira. Ainda hoje grassa
por aí a comunicação falha, repleta de subterfúgios, disfarces e
incompreensões. Uma comunicação que nada comunica, pois
se realiza entre pessoas entrincheiradas em seus campos de
batalha pessoais; em que o outro pode se transformar em

inimigo mortal ao menor sinal de diversidade de pensamento;
em que os adultos se acostumaram a lançar sobre o outro toda
e qualquer responsabilização que lhe caiba por conta de seus
equívocos.
Com a aproximação das eleições em 2022 a tendência é que as
trincheiras da comunicação sejam reforçadas. Por trás de suas
pretensamente profundas opiniões; de seus direitos primeiros
sobre os direitos segundos (sempre segundos!) dos outros; da
necessidade (necessidade??) de favorecer o próprio lado na
história, a fim de safar-se de qualquer problema; muitos
brasileiros têm optado por reproduzir o comportamento
corriqueiro; comum, mas não normal; dos políticos de carreira,
e passar todo o período eleitoral participando do “cada um por
si” e “a culpa é do outro”. Ao reproduzirem o comportamento
infame de muitos dirigentes do poder público, os brasileiros
perdem, mais uma vez, a preciosa oportunidade de crescerem
em maturidade, comprometimento e engajamento por uma
sociedade mais honesta e mais justa. E repetem, de certo
modo, ad infinitum, a expressão cunhada por Cecília Meireles
décadas atrás: o que se entende (de honestidade dos outros) e
o que se diz (das próprias ações). Ou acordamos já ou
estaremos condenando nossa nação, mais uma vez, a perder a
comunicação do progresso, da cidadania e da justiça social para
todos. E não adiantará de nada culpar, então, os outros, pois o
compromisso social é de todos os cidadãos!

 

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