Oito órgãos foram captados na unidade de saúde de Maricá e transportados em helicóptero pela equipe da RJ Transplante
O Hospital Municipal Dr. Ernesto Che Guevara, em Maricá, realizou na segunda-feira (16/10), a primeira captação múltipla de órgãos, onde foram captados coração, pulmão, fígado, pâncreas, rins, córneas, ossos e pele de um paciente do sexo masculino, que teve o diagnóstico de morte encefálica. Os oito órgãos doados serão utilizados em transplantes no Sistema Único de Saúde (SUS) e foram transportados em helicóptero pela equipe do RJ Transplantes.
Essa foi a quinta ação de captação de órgãos efetivada no Hospital Dr. Ernesto Che Guevara, que contou com o primeiro coração e pulmão captados para doação no local, um ato que contribui para salvar vidas de pessoas que aguardam por transplantes no SUS. As quatro captações anteriores totalizaram dois rins, um fígado e uma córnea. A unidade conta com a Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT), que faz a busca ativa de pacientes com morte encefálica, além de acolher e orientar as famílias, confirmando se a doação pode ser feita.
Integrante a CIHDOTT, Paula Nadaf destacou os processos necessários para efetivar a captação e a importância de falar sobre ser um doador.
“O paciente dessa captação teve o diagnóstico de morte encefálica, significando morte cerebral, mas os demais órgãos continuaram funcionando pelo auxílio de equipamentos. A doação só é possível atualmente com a autorização da família, então precisamos falar sobre isso com nossos familiares, mostrando a intenção de ser um doador e manifestando esse desejo em vida”, afirmou.
Ela também detalhou os processos minuciosos para identificação e posterior doação dos órgãos.
“No momento que diagnosticamos a morte encefálica, avisamos à equipe do RJ Transplantes e seguimos todos os critérios rigorosos estabelecidos. Com a certificação desse óbito, é iniciada a verificação de quais órgãos podem ser doados e a realização de diversos exames laboratoriais e médicos. Após isso, o Estado analisa a fila de espera por transplantes para atestar quem é compatível com o doador, seguindo diversos critérios técnicos”, acrescentou.
Captação de órgãos nos hospitais municipais
Maricá começou a realizar captação de órgãos em 2022, quando o município passou a integrar o Programa Estadual de Transplantes (PET). Até o momento, já foram captados 19 órgãos nos hospitais municipais Dr. Ernesto Che Guevara e Conde Modesto Leal. O processo começa quando a equipe de profissionais identifica um quadro clínico com suspeita de morte encefálica, sinalizando à comissão responsável por essa área, que realiza a atualização da situação do paciente e faz as primeiras orientações à família, dando início ao acompanhamento.
Nessas situações, é obrigatório que a morte encefálica seja diagnosticada por dois médicos qualificados, seguindo resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM). Além disso, esses profissionais precisam ser titulares de uma das seguintes especialidades: medicina intensiva, neurologia, neurocirurgia e medicina de emergência. No caso de ausência, o diagnóstico pode ser feito por qualquer médico com, no mínimo, um ano de experiência no atendimento a pacientes em coma, que tenha acompanhado ou realizado, pelo menos, dez exames de determinação de morte encefálica ou tenha curso de capacitação na área.
É importante destacar que nenhum dos médicos habilitados para a abertura e fechamento do protocolo de morte encefálica pode fazer parte da equipe de transplantes.
Após todas as etapas de identificação e avaliação detalhada dos profissionais, são enviados dados e informações precisas à equipe do RJ Transplantes, que segue com a organização e análise dos processos necessários até a doação e o transplante de órgãos.
Médicos capacitados para identificação dos casos
Maricá sediou no dia 29/08 uma capacitação especializada em morte cerebral oferecida pela Central Estadual de Transplantes do Rio de Janeiro (CET-RJ), em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde. A iniciativa reuniu 22 profissionais e teve o intuito de indicar os critérios e procedimentos que devem ser adotados por médicos para definição da morte cerebral. A formação foi oferecida aos profissionais com, no mínimo, um ano de experiência no atendimento a pacientes em coma, que trabalham em unidades com leitos de ventilação mecânica no estado.
A formação “Determinação de Morte Encefálica” integrou o compartilhamento de conhecimentos teóricos e momentos de treinamento prático em um laboratório de simulação realística da Universidade de Vassouras (campus Maricá), onde foram retratadas situações do cotidiano médico através de equipamentos e manequins de alta fidelidade, que mostraram as vivências de um Centro de Terapia Intensiva (CTI).