sexta-feira, novembro 22, 2024
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A TRAGÉDIA ETERNAMENTE ANUNCIADA – Luciane Raposo

Choveu em Minas Gerais; chuva forte; temporal; enchente e destruição. Choveu em Bahia; chuva forte; desespero; agonia. Choveu no Rio de Janeiro; caos; prejuízos; desnorteamento. Mas o que parece notícia nova, na verdade é manchete antiga, de muitas décadas, sucessivas vezes revivida na agonia de um povo que não tem governo forte, nem é prioridade no orçamento público.

Todos sabemos que o Verão é tempo de nossos céus derramarem copiosas águas e mesmo assim… Mesmo assim as chuvas, incontroláveis pelo aumento absurdo das temperaturas – na maioria das vezes – de modo extremamente rápido – ainda pegam o poder público de surpresa!!! Então é o caos, a destruição de moradias, o desamparo e a desilusão de tantos brasileiros que levaram anos – e talvez décadas – para conquistar um mínimo de conforto em suas casas. Multiplica-se a destruição, alarga-se o fosso social e econômico e ainda há quem erga as mãos ao Céu, bradando por Deus, quando, na verdade, já conhecíamos a narrativa do caos.

Nossos avós passaram por isso; nossos pais sofreram igualmente; e provavelmente, nossos filhos e netos ainda passarão pela destruição de vidas, pelo despedaçamento de comunidades inteiras. Falta de aviso não é! O que seria? Destino! Ah, mas o homem moderno, citadino, se orgulha de proclamar aos quatro cantos que alcançou a autossuficiência científica e tecnológica e é capaz de resolver qualquer problema. É possível que fosse assim se o humano de hoje não arrastasse após si as mesmas fraquezas de seus antepassados: ganância, desprezo pela vida do outro, “amor” pelo poder. Elementos que não costumam faltar a muitos que exercem governança pública no Brasil, e que preferem adiar ad infinitum a resolução dos reais problemas do povo brasileiro. É desse modo que acompanhamos, ainda imbuídos do sentimento de humanizadora angústia pelo destino (destino?) de pessoas que não conseguem dormir em paz, viver em paz, construir uma vida em paz, pois ao menor sinal de tempestade no horizonte, a ameaça de enchente, doenças, perdas e desolação se torna mais e mais premente.

Por outro lado, o brasileiro possui a notável capacidade de se enternecer com a dor do outro – outro que, não o conhecendo, é digno de seu cuidado, seu carinho e seu respeito. Traço do caráter brasileiro, da cultura cordial e afável de grande parte da população brasileira, de suas raízes religiosas. Traço que move estranhos a moverem mãos e pés, corações e palavras no simples intuito de diminuir a dor do próximo, acreditando que o fato de morar em outra região não o torna menos próximo e menos merecedor de atenção e solidariedade. Esse é, sem dúvida, o maior bem retirado das lamas das enchentes que afogam sonhos, lares e sentimentos. E que pode contribuir para minorar a dor do  brasileiro pobre.

Há, porém, um último elemento a considerar nas engrenagens da tragédia das chuvas. O pobre que tudo perde repentinamente não é um preguiçoso social. Não é um encostado que nada faz, aguardando a benevolência do governo e da sociedade. Ele é o trabalhador que sai cedo, muito cedo, todos os dias; que enfrenta transportes muitas vezes lotados; que tem o dinheiro contado, rezando para nada dar errado no mês; que educa seus filhos na fé do Senhor e na esperança de dias melhores; e que, mesmo inundado pelas lágrimas da chuva torrencial, conserva a generosidade de socorrer o vizinho que esteja em condições ainda mais precárias do que as suas. Este, sim, é o Brasileiro por excelência!

 

             “REFLEXÕES “LITERÁRIAS”

 LUCIANE RAPOSO – LEITORA, ESCRITORA, EDUCADORA, PALESTRANTE E BOOKTUBER

Instagram: @ludecastroraposo     Youtube: www.youtube.com/literaturapravida

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