quinta-feira, novembro 21, 2024
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Pesquisadores resgatam história de primeiro indígena universitário do Brasil

Historiadores Luiz Guilherme Scaldaferri e Marcelo Sant’Ana Lemos farão live sobre José Peixoto Ypiranga dos Guarany na segunda-feira (24); pesquisa ganhará livro em 2023

No aldeamento de São Pedro de Cabo Frio, dois anos depois da Independência do Brasil (1822), nascia José Peixoto Ypiranga dos Guaranys (1824-1873). Trata-se do protagonista de uma história até então pouco conhecida: a do primeiro indígena brasileiro a ter acesso ao ensino universitário. Formou-se bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de São Paulo, em 1850, tendo como colega de turma o romancista José de Alencar. Sua trajetória, de suma importância para compreensão da história do Brasil, é objeto de pesquisa dos historiadores Luiz Guilherme Scaldaferri Moreira e Marcelo Sant’Ana Lemos. Eles são autores do livro “O primeiro indígena universitário do Brasil — Dr. José Peixoto Ypiranga dos Guaranys (1824-1873)”, que será lançado no início de 2023 pela Sophia Editora em formato impresso, ebook e audiobook. O projeto  conta com patrocínio do Governo do Estado do Rio de Janeiro, através do Edital Retomada Cultural RJ2, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia.

Durante seus 49 anos de vida, Ypiranga dos Guaranys foi proprietário de terras e de escravos, comerciante, advogado, promotor público, vereador e inspetor escolar em diversas cidades. Em 2019, os historiadores publicaram artigo sobre o tema na revista Acervo, do Arquivo Nacional, mas perceberam que a pesquisa poderia se aprofundar ainda mais.

“Por volta de 2010, quando fiz palestras em Cabo Frio, acabei falando sobre José Peixoto Ypiranga dos Guaranys. Mais adiante pensei em fazer uma pesquisa mais aprofundada. Então, propus ao Luiz Guilherme que a gente fizesse um artigo para a revista do Arquivo Nacional. E acabou que pesquisamos muito mais”, conta Marcelo.

Segundo os pesquisadores, desde a infância o Ypiranga dos Guaranys visitava a corte e também acompanhava o pai, Joaquim Rodrigues Peixoto, no comércio de cabotagem, que realizava na Baía de Guanabara. Inclusive, foi Joaquim Rodrigues Peixoto o primeiro a pedir ao estado financiamento para que indígenas pudessem cursar a faculdade – o que foi negado.

“O que mais chama a atenção na história dele é que, no fim do século XX e no início do século XXI, os indígenas foram galgando não só a universidade no primeiro momento, mas no segundo momento foram fazendo mestrado, virando até professores universitários. Esse ineditismo, esse protagonismo de Ypiranga dos Guaranys é muito importante para jogarmos luz a esse fato pouquíssimo conhecido”, acrescenta Marcelo.

Muitas curiosidades permeiam a pesquisa. Uma delas é que a turma de Ypiranga dos Guaranys na universidade era heterogênea, uma vez que tinha alunos de sete províncias diferentes. Entre os colegas havia futuros juízes, ministros, escritores, parlamentares e nobres do Império. Ypiranga dos Guaranys, juntamente com seus colegas de turma, no primeiro ano do curso, foi um dos fundadores do Instituto Literário Acadêmico, responsável por publicar a revista Ensaios Literários.

Contam os pesquisadores em trecho do artigo publicado na revista Acervo: “O ambiente intelectual em torno da revista influenciou Ypiranga dos   Guaranys. Com certeza, leu e discutiu o artigo de José de Alencar “Sobre a vida de d. Antônio Felipe Camarão” (1849), publicado pela revista. Naquele contexto, algo deve tê-lo inspirado profundamente. O orgulho do seu passado indígena de aldeado de São Pedro aflorou e, por que não, começou a perceber que poderia traçar estratégias e obter ganhos ao adotar uma “nova” identidade. Acreditamos que, na virada do ano de 1849 para o de 1850, foi ao cartório para mudar o seu nome, assumindo assim a sua identidade indígena”.

Para os pesquisadores, a importância do resgate da história do primeiro indígena universitário do Brasil é de valor inestimável para a história do Brasil e da Região dos Lagos.

“Com o trabalho, contribuímos para vencer uma série de preconceitos que a sociedade brasileira tem ainda hoje sobre a população indígena. Além disso, a trajetória dialoga profundamente com as imagens representativas de um ideal de povo e nação que estavam sendo elaboradas e cuja discussão atravessou o período do Império e se mantém viva”, destaca Scaldaferri.

O livro “O primeiro indígena universitário do Brasil — Dr. José Peixoto Ypiranga dos Guaranys (1824-1873)” será lançado no início de 2023 pela Sophia Editora nos formatos impresso, ebook e audiobook.

 Live vai contar trajetória de Ypiranga dos Guaranys

Fruto de uma parceria da Sophia Editora com a Secretaria Municipal de Educação de Cabo Frio, por meio da Coordenadoria de Formação Continuada e Coordenadoria de Projetos e Programas Especiais, uma live será realizada na segunda-feira (24) para contar a história de Ypiranga dos Guaranys. Realizada para professores da rede municipal de ensino de Cabo Frio, mas também aberta ao público, a live vai ter carga horária de duas horas e será transmitida pelas redes sociais da Sophia Editora (Youtube e Facebbok), das 18h30 às 20h30.

“É com satisfação que a Seme Cabo Frio participa desse projeto com a Editora Sophia. Questões ligadas à luta dos negros e dos indígenas devem sempre fazer parte da ordem do dia em nossas salas de aula e não apenas em datas comemorativas. Conhecer a história do primeiro indígena universitário do Brasil, certamente, despertará a curiosidade dos nossos professores e poderá estimular ainda mais a abordagem do tema com os alunos em todos os anos escolaridade, enriquecendo a discussão sobre aspectos importantes das raízes indígenas da nossa região. Considerado a relevância do tema compartilhamos a divulgação da formação com os professores dos municípios de Arraial, Búzios e São Pedro”, ressaltou Débora Ribeiro, coordenadora da Formação Continuada da Secretaria de Educação de Cabo Frio.

Quem são os pesquisadores

Luiz Guilherme Scaldaferri Moreira – Doutor em História pela UFF (2015). Mestre em História Social pela UFRJ (2010). Bacharel e Licenciado em História pela UFRJ (2001). Professor das redes municipais de ensino de Armação dos Búzios e Cabo Frio. Tem se dedicado a pesquisar questões ligadas à temática da História Indígena, a História Militar e a popularização da História da Região dos Lagos. Em 2010, publicou “Os índios na História da Aldeia de São Pedro de Cabo Frio – séculos XVII-XIX”, em coautoria com Janderson Bax Carneiro. Em 2018, juntamente com Rose Fernandes, publicou “Cabo Frio e a Pesca da Baleia na Ponta dos Búzios (Séculos XVIII e XIX). Em 2020, em coautoria com José Francisco de Moura, publicou “História de Cabo Frio – dos sambaquieiros aos cabo-frienses)”. Em 2010 recebeu a menção honrosa no Concurso de Monografia do Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro, com sua dissertação de Mestrado. É membro da Academia Cabofriense de Letras. Em 2021, escreveu o livro infantil “História de Cabo Frio contada à minha filha”.

Marcelo Sant’Ana Lemos – Possui graduação em Geografia (1986), mestrado em História (2004), ambos pela UERJ. Foi professor do Colégio Pedro II (1993-2011), da rede pública estadual (1999-2006), professor em cursos de pós-graduação na Universidade de Vassouras e na UFRJ. Autor de livros sobre a história indígena fluminense e de crônicas. Organizador de cursos sobre temática indígena para professores da rede pública estadual e municipal e para o público em geral, também apresenta palestras e lives sobre esses assuntos.

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