quinta-feira, novembro 21, 2024
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A MEMÓRIA QUE FAZ A HISTÓRIA Reflexões LITERÁRIAS Luciane Raposo

REFLEXÕES “LITERÁRIAS”

LUCIANE RAPOSO – LEITORA, ESCRITORA, EDUCADORA, PALESTRANTE E BOOKTUBER

Instagram: @ludecastroraposo     Youtube: www.youtube.com/literaturapravida

 

Sylvio Lamas de Vasconcellos foi um advogado e intelectual araruamense de grande destaque na cidade. Em todas as ocasiões em que passo pela residência onde ele habitou por décadas em Araruama, situada próximo ao que é hoje o Conselho Tutelar da cidade, sinto saudades, sinto receio, sinto medo. Saudades do homem ilustre, muito bem-educado, perfeito cavalheiro e insígne intelectual, que possuía uma das mais preciosas bibliotecas da região, afora o acervo de peças bastante raras que compunham a decoração de seu lar. Medo e receio eu sinto ao imaginar que, possivelmente, sua residência, mais do que secular, retrato fiel de um período áureo de Araruama, pode se transformar em pó e desaparecer da face da Terra diante de decisões imobiliárias que têm se tornado muito frequentes em nossa terra.

  Por certo que a casa não me pertence e que é direito de todo proprietário vender seus bens quando lhe aprouver. Entretanto, me pergunto, às vésperas do aniversário do município de Araruama, o porquê de tantas residências históricas terem sido sacrificadas ao “progresso” de uma cidade que, sim, tem História e importância. Talvez o motivo resida no fato de que, embora rica de História, esta cidade não conserva sua Memória. Obviamente nem todas as casas antigas poderiam permanecer de pé numa cidade em que o número de moradias duplica com espantosa rapidez (e na maioria das vezes, sem muito planejamento); o que não impediria que o poder público traçasse um plano de recuperação, conservação e abertura das residências, e mesmo lojas, que contam, em suas paredes, seus telhados, suas portas, suas janelas e entradas, o passado daqueles que construíram esta cidade. E o que importa o passado numa cidade que caminha para o futuro? Importa em respeito ao direito à herança cultural dos munícipes das novas gerações, que poderiam aprender muito mais sobre honrar os seus antepassados e os mais velhos, sobre o respeito a instituições públicas e sobre a importância de conservar a memória dos que já se foram, aprendendo preciosas lições com eles, a fim de não incorrerem repetidas vezes no equívoco de considerarem que somente Sua geração importa, desmistificando o erro da sociedade pós-capitalismo, em que somos todos incentivados a pensar no agora, sem nos preocuparmos em construir uma sociedade mais consistente, leal e sábia, partindo do Passado para edificar um futuro em que os araruamenses possam se orgulhar de celebrar o aniversário de sua terra em cada pedaço desse chão que conta a sua, a minha, a nossa História em todos os fevereiros de nosso “Bebedouro das Araras”.

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