Como contrapartida social, o “Niterói, Amor Mio!” vai abraçar três escolas públicas, com o objetivo de falar um pouco sobre a imigração e o segmento de restaurante. O Chef italiano Bruno Marasco vai cozinhar, enquanto conversa com os jovens sobre o seu ofício e esclarece possíveis dúvidas e curiosidades. O livro “Cucina d´Amor – Histórias e Receitas de italianos no Brasil” são 192 páginas em papel couché, com capa dura, que pereniza a trajetória das famílias Marasco, Sassi, Petraglia, Buzin, Bruno, Tagliabue, Polizzo, Pollola, Lorusso, Paura, Fuscaldo, Chinelli, Carino, Lucchesi, Acceta, Villa, Cappucci e D´Andrea. No final das contas, não se pode dizer que se trata meramente de um livro de receitas, mas de memória, sobretudo, de um importante legado cultural e histórico compartilhado entre italianos e brasileiros.
As receitas
Das tardes regadas a pão e vinho, entre outras especialidades italianas, Suzanne Iervolino, também uma descendente, se dedicou à escuta ativa de 21 histórias contadas por imigrantes ou por seus descendentes. Como resultado as transformou em crônicas que traduzem o universo dessas famílias, e como elas conseguiram se estabelecer na cidade e prosperarem, a despeito de todas as adversidades.
Cada uma dessas crônicas é representada por um prato típico da culinária italiana que pode ser doce, apimentado ou salgado – assim como as lágrimas –, de acordo com a essência do texto. E cada receita foi produzida pelo Chef Bruno Marasco, sob os olhares curiosos dos entrevistados – muitos não faziam ideia do prato que seria preparado e do poder que trazia, tendo como referência as suas lembranças compartilhadas durante a entrevista. Enquanto isso, a cineasta Naila Gianni e a fotógrafa Adriana Oliveira registraram todos esses momentos.
A emigração
O filme institucional do projeto e a exposição, que conta com a curadoria de Wil Catarina e Bê Sancho, são complementares e cumprem o papel de convidar os participantes a experienciar essa vivência da emigração italiana em um período histórico de profundas mudanças no cenário mundial. Na realidade, a política emigratória foi fruto de um casamento de anseios e necessidades.
Com o fim do trabalho escravo no Brasil, a aristocracia portuguesa buscava uma mão-de-obra barata e pronta para o trabalho braçal. Com base nas teorias racialistas do período, o Estado Brasileiro resolveu investir na vinda de imigrantes europeus. Na Europa, os italianos já viviam um fluxo de emigração rumo às Américas. Trazer essas famílias para o Brasil foi uma forma de suprir a ausência de trabalhadores experientes para atuar nas lavouras cafeeiras, especialmente, no interior de São Paulo.
Enquanto isso, na Itália, no período compreendido entre 1870 e 1900, vários italianos estavam deixando o país em busca de condições de vida mais atrativas. As crises econômicas e sociais que assolavam o país empurravam os trabalhadores, sobretudo operários, agricultores, pedreiros, artesãos e colonos, a cruzarem os mares em busca da realização do seu sonho. A maioria deles queria conquistar um pedaço de terra que pudesse ser chamado de seu. Ou seja, buscar um novo recomeço!
A emigração italiana totalizou um período de 140 anos, com início em 1861 e término na década de 1980, totalizando um quantitativo de 29 milhões de italianos que deixaram o seu país rumo às Américas. Esses e outros dados foram levantados pela historiadora Priscila Aquino, PhD em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), que assina todo o embasamento histórico, tanto no livro quanto na exposição.