quinta-feira, novembro 21, 2024
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Como a esquerda pode virar o jogo nas próximas eleições municipais?

por Gabriel Bastos, historiador e professor

Na mídia de esquerda entram e saem eleições municipais e a questão é sempre a mesma: quando nosso campo terá espaço e tração nos debates em eleições municipais? Dezenas e mais dezenas de artigos são publicados com a mesma ideia, com os mesmos vícios de análise: o de deslocar para a questão regional ou nacional assuntos que são de natureza local!

 

Em geral as eleições municipais são tratadas por certa mídia quase que exclusivamente como antessala para as eleições nacionais e pouco se debate seriamente como essas questões se conectam. Diante da crise do Partido dos Trabalhadores após a Operação Lava Jato e a prisão de Lula, o desempenho eleitoral do partido reduziu significativamente nos municípios. Em 2012, o PT elegeu 624 prefeitos, caindo para 256 em 2016 e 183 em 2020. Em 2024, o número mostra uma recuperação alcançando 248 prefeituras. Os números melhoraram e isso tem a ver com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição de 2022! Mas quero chamar você, leitor, leitora, a pensar as eleições municipais numa outra perspectiva.

 

As eleições municipais estão e são muito mais determinadas por demandas locais do que por questões nacionais. Evidentemente o apoio deste ou daquele candidato nacional tem peso no processo. O apoio do Presidente da República, de governadores e congressistas tem a possibilidade de alavancar ou não uma candidatura. Assim como podem também arrancar votos. Mas parece-me que muitas análises sobre desempenhos dos partidos do campo progressista ou de esquerda nas eleições municipais perdem de vista esta questão. Não adianta nada o candidato ter apoio de grandes lideranças se não conseguir transformar este apoio em voto e confiança numa boa administração do município. Se não fizer, ele pode até ganhar, mas não consegue se reeleger! Temos inúmeros exemplos disso perto ou longe. Não adianta ser uma boa liderança se não entregar resultados!

 

Ao contrário do que pensa parcela importante da imprensa, independentemente do tamanho ou da coloração partidária, o povo sabe muito bem as atribuições que prefeitos e vereadores têm, além de terem expectativas claras sobre como as demandas locais devem ser satisfeitas. Os analistas em geral vivem em capitais ou cidades grandes, cujas demandas da administração municipal tem lógicas diferentes, apresentando questões e problemas próprios. Mas em realidades de municípios menores, outras coisas são exigidas desses mandatários.

 

Trocando em miúdos, o candidato pode ter as melhores propostas e os melhores vínculos com liderançasestaduais e nacionais, mas se ele não tiver respostas e ações adequadas à realidade local e conseguir comunicá-las, não vence! Se não cuidar das ruas, praças, pagar direito seus servidores e não apresentarem soluções decentes para as questões do município, já era!

 

Hoje talvez o estado do Rio de Janeiro tenha uma das mais frutíferas administrações municipais do Brasil, um exemplo forte de como criar um programa de esquerda que oferece aos municípios a possibilidade de boas administrações. Os mandatos de Washington Quaquá e de Fabiano Horta, ambos do PT, em Maricá tem uma vantagem particular: equilibrar questões nacionais e demandaslocais. O grupo político maricaense tem construído uma alternativa de esquerda muito qualificada no debate das questões municipais. Transporte público tarifa zero, melhorias nas estruturas urbanas, aumento de salário de professores, médicos e demais servidores municipais são algumas das respostas dadas para questões reais dos municípios! Não é à toa que Horta e Quaquá se elegeram e reelegeram com votações próximas a 80%!

 

Enfim, acreditamos que falta aos grupos de esquerda apresentação qualificada de propostas em esfera municipal. A mera nacionalização do debate em eleições municipais não dá conta de explicar e convencer os eleitores de que nossos candidatos serão bons gestores e legisladores! Ou seja, além do debate nacional, os grupos de esquerda precisam construir propostas adequadas ao nosso jeito de ver o mundo para as perguntas dos munícipes! Se continuarmos centralizando o debate das eleições municipais em questões de esfera nacional, os grupos de direita continuarão a ganhar de lavada, afinal, eles conseguem apresentar resoluções dos problemas de nossos municípios e enquanto nós ficamos debatendo questões gerais. É necessário equilibrar os debates!

 

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