quinta-feira, novembro 21, 2024
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Por que o fantasma do Bolsonarismo ainda ronda o Brasil?

Texto escrito por Gabriel Pereira da Silva Bastos, historiador e professor

Em dezembro de 2023, saiu uma pesquisa indicando que 90% dos eleitores manteriam
o voto dado no segundo turno de 2022. O que isso significa que provavelmente se uma nova
eleição fosse feita agora, teríamos um resultado igual ou bem próximo ao que deu a Luiz Inácio
Lula da Silva o seu terceiro mandato com 60 milhões de votos. A se considerar o cenário
político, econômico, social e policial, o ano 1 do Governo Lula III foi surpreendentemente bom
do ponto de vista da economia, o governo atravessou o 8 de janeiro com altivez, isso tudo
enquanto as denúncias de corrupção, tentativa de golpe de Estado, aparelhamento do Estado
decaía sobre Bolsonaro. E isso cria uma pergunta importante e incômoda: por que o
bolsonarismo não recuou no Brasil?
A verdade é bem dura: o bolsonarismo veio para ficar! Haverá bolsonarismo mesmo
sem Bolsonaro. O que vai e precisa mudar é o seu tamanho e sua importância. Os movimentos
anticomunistas e de extrema direita deitam longas raízes na História do Brasil. Há registros de
manifestações anticomunistas no Parlamento brasileiro desde 1884! Houve quem defendesse
que o processo de Abolição da Escravatura fosse coisa de comunistas! Sim, querido leitor! Os
“barões” do Império brasileiro antes da implantação final do modelo capitalista no Brasil já
tinham medo do comunismo! O anticomunismo do século XX aprofundou ainda mais um medo
visceral das elites de qualquer mudança que representasse alteração nessa “sociedade
perfeita”, como recentemente disse o historiador João Fragoso, ao pensar o mundo do Brasil
escravista.
Mas o bolsonarismo é um espectro que ainda ronda o Brasil porque se enraizou na
política brasileira. Isso se deve a vários fatores. Lá fora, extremistas de direita ganharam
grande importância depois da crise de 2008 e da incapacidade dos políticos tradicionais de
darem respostas a maior crise desde 1929. Aqui, desde 2013 o bicho está pegando. Denúncias
de corrupção viraram novelas. A direita brasileira liberal, moderada fez de tudo depois de
perder em 2014 e logo perdeu espaço e relevância, afinal os extremistas antes minoria se
espalharam e se viram mais representados pelo extremismo de Bolsonaro. Além disso, o PT
avançou em pautas de direitos das mulheres e das minorias sexuais e em políticas de direitos
humanos, incluindo investigações sobre os crimes da Ditadura Civil Militar. Houve reação de
evangélicos, militares e outros grupos! Embora tímida, a Comissão da Verdade trouxe um
grande ressentimento dos militares por expor ainda mais os horrores ocorridos entre 1964 e
1985. Misturado tudo isso, deu a sopa perfeita para alimentar os fanáticos e fazê-los crescer!
Mas você, meu leitor, poderia me perguntar: Mas Gabriel, Lula está indo bem, o
governo está organizado, fazendo coisas relevantes, como o bolsonarismo ainda não recuou?
Então, a lógica das redes sociais que fizeram Bolsonaro de deputado federal com vaga cativa
no CQC e no Superpop a presidente em 2018 não mudou. Os medos irracionais dos LGBT+s,
feministas e comunistas e as fake News e teorias conspiratórias sobre as eleições, sobre o PT e
seu conluio com Alexandre de Morais ainda rolam soltas nos grupos de Zap da igreja, do
futebol e no grupo de amigos. Embora o governo vá muito bem na tarefa que lhe cabe, o de
governar, ainda há uma tarefa a se fazer: desmontar a estrutura digital que tornou Bolsonaro
Mito e devolver ao esgoto esses ratos e baratas políticas. O governo Lula é bom, precisaria
avançar um pouco mais, mas ainda é preciso exorcizar o fantasma do bolsonarismo. Isso para o
bem do governo e principalmente para o bem do Brasil!

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